15/09/2025- Seca no Sertão, Abundância no Litoral: O Desafio Hídrico de Pernambuco para a COP-30
- Angelo Mota
- 15 de set.
- 3 min de leitura

Pernambuco reflete um contraste marcante no acesso à água, agravado pelas mudanças climáticas, que será central na COP-30, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA). Enquanto o Sertão enfrenta estiagens severas que prejudicam a agricultura, a pecuária e o abastecimento humano, o litoral, especialmente a Região Metropolitana do Recife (RMR), mantém um fornecimento hídrico mais estável, embora com desafios próprios. Essa dualidade expõe desigualdades estruturais e reforça a necessidade de justiça climática, um tema que o Brasil deve destacar na conferência global.
Sertão: A Luta Contra a Seca
O Sertão pernambucano, região semiárida que cobre cerca de 70% do estado, sofre com chuvas escassas e irregulares, influenciadas por condições climáticas adversas. Em 2025, a crise hídrica se intensificou: em janeiro, o governo estadual declarou emergência em 118 dos 184 municípios, impactando mais de 2 milhões de pessoas. Relatórios da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) indicaram chuvas abaixo da média no início do ano, com estiagem severa (nível S2) em 33 cidades até maio. As consequências incluem:
Impactos econômicos: Perdas agrícolas, como safras de milho e feijão, e venda forçada de gado devido à falta de pastagens.
Impactos sociais: 16 reservatórios em nível crítico, com cidades como Santa Filomena dependentes de carros-pipa, aumento de doenças relacionadas à água e migração forçada para áreas urbanas.
Impactos ambientais: Desertificação acelerada e temperaturas 1,64°C acima da média histórica, consolidando Pernambuco como um ponto crítico do clima.
Chuvas esporádicas em julho aliviaram temporariamente algumas áreas, mas previsões apontam para o retorno da seca em setembro, reforçando a vulnerabilidade da região.
Litoral: Estabilidade Relativa, Mas com Limites
Na RMR e no litoral, o abastecimento é garantido por sistemas como a Barragem de Pirapama, que fornece 5.130 L/s para cerca de 3 milhões de pessoas. Investimentos de R$ 2,4 milhões em 2025 asseguraram água contínua em áreas turísticas, como Porto de Galinhas, durante períodos de alta demanda, como o Carnaval. No entanto, desafios persistem:
Chuvas intensas em fevereiro e maio causaram interrupções no abastecimento em 18 e 10 cidades, respectivamente, devido a problemas como turbidez e falta de energia.
Manutenções no sistema Pirapama, como a de julho, afetaram 2 milhões de pessoas por até 72 horas.
Reservatórios como Bita (13%) e Utinga (14%) estão em níveis críticos, e o consumo elevado no litoral, impulsionado por turismo e urbanização, aumenta a pressão hídrica.
Apesar de mais resiliente, o litoral reflete privilégios em relação ao Sertão, onde a infraestrutura hídrica é precária.
Desigualdade Hídrica: Um Retrato de Pernambuco
A tabela abaixo sintetiza as diferenças entre as regiões em 2025:
Essa disparidade evidencia um problema estrutural: enquanto o litoral recebe investimentos robustos, o Sertão depende de soluções paliativas, como carros-pipa, sem enfrentar as raízes da crise, como desmatamento e falta de cisternas. A privatização parcial da Compesa, planejada para 2025 com R$ 19 bilhões em investimentos, promete universalizar o saneamento até 2033, mas há temores de que as desigualdades se aprofundem.
COP-30: Pernambuco como Exemplo de Justiça Climática
A COP-30, com foco em sustentabilidade e equidade, oferece ao Brasil a chance de abordar essas desigualdades. Pernambuco, que sedia eventos preparatórios como o Encontro Pernambucano de julho de 2025, destaca a crise hídrica e as ilhas de calor urbanas. A conferência pode impulsionar:
Adaptação Climática: Reforçar políticas hídricas nacionais, como a Lei 9.433/97, e proteger os "rios voadores" da Amazônia, essenciais para as chuvas no Nordeste.
Equidade Social: Financiar cisternas no Sertão e estações de tratamento no litoral, com base em compromissos globais.
Legado Sustentável: Investir os R$ 4,7 bilhões federais da COP-30 em infraestrutura resiliente, priorizando comunidades vulneráveis.
Sem ações coordenadas, as crises de seca no Sertão e os desafios no litoral persistirão, agravando a vulnerabilidade de Pernambuco. A COP-30 deve transformar discussões em políticas concretas para garantir água e justiça climática. Para atualizações, consulte a Apac ou o Monitor de Secas da ANA.









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